domingo, 3 de junho de 2012

Pré História

Do ponto de vista formal, a expressão “pré-história” designa tudo que houve antes da história humana se desenrolar. Na prática, esse mesmo termo abarca o período que vai desde o surgimento da vida da Terra, a evolução da espécie humana, indo até o aparecimento da escrita. Dessa forma, percebemos uma curiosa contradição: como o termo pré-história é utilizado para se definir um tempo em que os seres humanos já existiam na Terra?

Para compreender essa contradição, devemos conhecer quem foram os responsáveis pela existência do padrão que convenciona o período pré-histórico. Tal concepção apareceu precisamente junto aos
historiadores do século XIX, que acreditavam que o estudo do passado só era possível por meio de documentos escritos. Dessa forma, julgavam que a compreensão do passado pré-histórico não poderia se sustentar em bases verdadeiras.

Atualmente, esse tipo de compreensão acabou perdendo espaço para outras formas de recuperação do passado. Muitos historiadores passaram a ver que as fontes que documentam o passado não se resumem aos documentos escritos. As manifestações artísticas, a oralidade, a cultura material e outros vestígios podem se entregar no entendimento do passado. Com isso, o mundo pré-histórico deixou de ser visto como um tempo “destituído de história”.

Sem dúvida, a compreensão desse tempo da história humana é cercada por desafios de compreensão imensuráveis. A escassez de documentos impele os pesquisadores a se valerem dos mais diversificados campos de conhecimento para tentarem promover a retomada das primeiras ações do homem na Terra. Não se restringindo ao ato interpretativo do historiador, o estudo da Pré-História ainda conta com o apoio de antropólogos, físicos, arqueólogos, biólogos, químicos e paleontólogos.

Dessa forma, não há como negar a riqueza de informações desse ramo de conhecimento que trilha as conquistas do homem sobre a natureza. A construção de utensílios, as primeiras habitações, o desenvolvimento da arte rupestre e o domínio da agricultura são alguns dos outros assuntos que integram essa incrível época. Entre as três divisões do período (Paleolítico, Neolítico e Idade dos Metais), se acumula uma vasta e curiosa gama de informações históricas.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

ARTEFATOS LÍTICOS

Figura 1 – Artefatos líticos (manifestações da Tradição Umbu)
Legenda: a, b: pedra gravada (ambas as faces);
c: cópia dos petroglifos do Morro do Sobrado, Montenegro, RS;
d – o: pontas de projétil; p: furador; q: raspadeira;
r, s: raspadores pedunculados; (In: MENTZ RIBEIRO, 1999)

As primeiras ferramentas utilizadas pelos nossos ancestrais eram caracterizadas por um material muito simples e facilmente disponível nas áreas e/ou paisagens ocupadas durante a pré-história: a pedra.
Dentre os vários artefatos produzidos pelo homem, desde os tempos mais remotos, os objetos em pedra são conhecidos como os mais antigos da atividade humana. Com finalidades diversas, dentre as quais cortar, raspar, moer, incidir, quebrar sementes, trituração e defesa, foram produzidos pelos homens pré-históricos um conjunto de artefatos líticos que fizeram parte do cotidiano destes grupos. Como instrumentos mais comuns entre os artefatos, listam-se as lâminas de machado, os percutores, os raspadores, os furadores, as lascas, as pontas e os fragmentos resultantes da preparação destes materiais (resíduos de lascamento).
Os artefatos de pedra lascada, por exemplo, aos quais se deram as técnicas de lascamento, através da percussão simples e direta com um seixo (percutor), foram elaborados sobre uma matriz que chamamos de núcleo. Entendem-se como núcleos, os blocos de matéria-prima utilizados na confecção das peças líticas, de onde se obtém uma diversidade de lascas (fragmentos destacados por percussão). Indícios arqueológicos apontam que as lascas obtidas destes núcleos podiam ser retocadas ou não.
Os artefatos, confeccionados a partir destas lascas – com finalidades diversas -, apresentam-se em formatos variados, adquiridos após o seu destacamento da rocha matriz, recebendo o acabamento necessário (retoques) para as funções atribuídas. Os instrumentos em pedra lascada foram aplicados nas atividades pré-históricas de caça, coleta, pesca e preparo de alimentos.



Figura 2 – Material lítico da Tradição Humaitá.
a: zoólito (perfil); b-j: talhadores;
k: batedor-triturador com depressão esférica polida;
l,n: batedores-trituradores; m,o: raspadores
(In: MENTZ RIBEIRO, 1999)

A transição dos instrumentos de pedra lascada para os de pedra polida merece uma certa atenção, tendo em vista que alguns dos objetos utilitários, como o almofariz, a mó e a mão-de-mó apresentam finalidades vinculadas ao processamento de vegetais (moagem de sementes e grãos).
Características como a domesticação de plantas ou prática de agricultura incipiente na pré-história estão relacionadas, na arqueologia brasileira, ao processo de sedentarização dos grupos e à produção de objetos cerâmicos utilitários.
Analisando a bibliografia disponível, observamos algumas divergências de informações. Dados obtidos de sítios arqueológicos situados em diversas partes do
mundo demonstram que não há uma relação direta entre a pedra polida e a domesticação de plantas.
“A pedra polida era conhecida por povos da Indonésia e Nova Guiné, que desconheciam a domesticação; no Norte da Austrália havia caçadores-recoletores que possuíam machados de gume polido datáveis de c. 18.000 a.C.” (Vilaça, 1988 apud Testart, 1982). “Estes seriam tão revolucionários como os agricultores” (Vilaça, 1988 apud Testart, 1982).
“No Próximo Oriente, o polimento da pedra foi reservado, inicialmente, a objetos não utilizáveis, de adorno ou de prestígio, como os pendeloques natufenses. E da pedra polida, não depende a agricultura nem a domesticação”. (Vilaça, 1988).
Dando continuidade à discussão acima iniciada, abordaremos no nosso próximo encontro, a produção dos vasilhames cerâmicas, pelas populações pré-históricas sedentárias ou não. Aguardo você. Até a próxima!.